Se o atrito desaparecesse subitamente, muitas coisas às quais estamos acostumados sairiam erradas.
O físico francês, Guillaume, dá-nos uma descrição muito pitoresca do papel desempenhado pelo atrito:
“Muitos de vocês já observaram pessoas andando sobre uma superfície gelada e, sem dúvida, perceberam o quanto foi difícil para elas manter o equilíbrio. Isto nos leva a admitir que a Terra na qual vivemos e andamos apresenta, geralmente, uma preciosa propriedade, graças à qual nos mantemos de pé sem nenhum esforço particular. Dá-se o mesmo quando percorremos de bicicleta uma estrada escorregadiça ou quando um cavalo escorrega no asfalto e cai. Estudando esses fatos é que descobrimos as conseqüências do atrito. Os engenheiros esforçam-se para suprimi-lo nas máquinas e estão fazendo uma coisa certa. Na mecânica aplicada, o atrito é considerado muito indesejável – e, novamente, com muita razão, mas apenas em alguns setores especializados. Em todos os outros casos, devemos agradecer ao atrito. Permite-nos andar, sentar e trabalhar sem receio que livros caiam ao solo ou que as mesas deslizem até se chocar contra os cantos, ou que as canetas nos escapem dos dedos.
O atrito é tão comum que, com exceção de alguns casos raros, nunca é necessário chamá-lo, ele ocorre espontaneamente. É responsável pelo equilíbrio. Os carpinteiros aplainam o assoalho de maneira que as mesas e cadeiras permaneçam firmes.
Quando arrumamos uma mesa, os pratos e copos permanecem onde estão sem que nós tenhamos que nos preocupar com eles, a não ser que nos encontremos num navio sacudido por um mar revolto.
Imaginemos agora que eliminamos todo atrito. Então, nada ficaria onde está, quer uma imensa lasca de pedra, quer um minúsculo grão de areia. Todas as coisas escorregariam e rolariam até se encontrar num único e mesmo nível. Se não houvesse atrito, a Terra pareceria uma bola lisa, com a forma de uma gota de água.”
Acrescente-se que, na ausência de atrito, os pregos e parafusos soltar-se-iam das paredes, não poderíamos segurar nada, os redemoinhos nunca parariam, e som algum cessaria, continuando como um eco ininterrupto a ressoar pelas paredes de uma sala, por exemplo, sem enfraquecer.
As calçadas cobertas de gelo mostram-nos que o atrito é imensamente importante. Pessoas que saem de casa, nesse clima, encontram-se numa situação de desamparo, tomados pelo receio de cair. Eis alguns exemplos, retirados de artigos de jornais antigos:
"Devido ao rigoroso inverno, as ruas e o tráfego de bondes de Londres encontraram notáveis dificuldades. Quase 1.400 pessoas já foram hospitalizadas com fraturas. Perto de Hyde Park, três carros, devido a colisão com dois bondes, explodiram e foram consumidos pelas chamas.”
“Muitos acidentes têm ocorrido em Paris devido ao clima inclemente.”
Contudo, o atrito quase desprezível do gelo encontra uma excelente aplicação técnica. Um exemplo, é o trenó comum. Um melhor exemplo é oferecido pelos assim chamados caminhos de gelo utilizados para transportar toras de madeira até a estação da estrada de ferro ou até as balsas. Nessas estradas, dois cavalos podem puxar sobre os trilhos de gelo liso e escorregadio, um trenó com o carregamento de até 70 toneladas.
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