Em 1930, o americano Chester Carlson não tinha nada além de um diploma de bacharel em ciências com especialização em Física, 1.400 dólares em dívidas e duas respostas negativas às 82 cartas que havia mandado em busca de emprego. Mas o físico de Seattle, que na época tinha apenas 24 anos, era persistente. É fácil entender por quê: desde os doze anos, o menino magro e desengonçado trabalhava limpando vitrines e varrendo escritórios para sustentar os pais, que sofriam de tuberculose.
Aos 14 anos, conseguiu também um emprego de auxiliar de tipógrafo. No ginásio, passou ainda a acumular a função de ajudante num laboratório de Química, que exercia aos sábados e domingos. Sua jornada era de nada menos de doze horas – das seis da manhã às seis da tarde. Mas, afinal, o récem-formado conseguiu um emprego no departamento de patentes de uma firma de eletrônica de Nova York. Foi ali que começou a perceber a necessidade de um aparelho que pudesse tirar cópias de textos.
Em 1935 Chester pôs na cabeça que iria inventar uma máquina que funcionasse ao mero toque de um botão. Foram três anos de trabalho solitário à noite e nos finais de semana. A maior parte do tempo ele passava na Biblioteca Pública de Nova York, em busca de livros especializados. Chester dividia ainda as horas dedicadas à investigação científica com um curso na Faculdade de Direito e o emprego na firma de eletrônica.
Enfim, em 1937, conseguiu patentear um processo, ao qual deu o nome de eletrofotografia, que, teoricamente, poderia reproduzir documentos com certa qualidade. Mas a máquina era ainda apenas um punhado de papéis cheios de anotações. Faltava o principal: construir o aparelho. A tarefa não seria fácil, pois o laboratório de Chester não passava de um armário embutido num apartamento de um único cômodo. Era evidente que ali não havia instrumentos suficientes para a construção do invento. O americano não pensou duas vezes: alugou um quarto no subúrbio de Astória e investiu todas as economias na compra de uma bancada, placas de metal, resinas, enxofre, produtos químicos e um bico de Bunsen (espécie de fogareiro de laboratório).
Conseguiu ainda contratar um físico, o alemão Otto Kornei, para ajudá-lo nas experiências. Não passou muito tempo até que os dois produzissem naquele quarto pequeno a primeira cópia eletrográfica. “10-22-38 (22 de outubro de 1938) Astória” foram as palavras impressas definitivamente no papel, mediante o processo que Chester tinha proposto um ano antes. O cientista esfregou com um pano de algodão uma placa de zinco revestida de enxofre, de modo que ela ficasse carregada de eletricidade estática (a mesma que faz com que um pente, depois de usado, atraia pedacinhos de papel). Na lâmina de vidro de um microscópio, escreveu com tinta nanquim a data e o local da experiência.
A lâmina foi encostada à placa e ambas submetidas por alguns segundos à luz de um refletor. Aconteceu o que o físico esperava: os raios de luz dissiparam a carga da chapa, exceto das partes tapadas pelos dizeres. A placa foi então pulverizada com um pó químico de cor preta chamado licopódio, que foi atraído apenas pela parte da placa que permaneceu energizada, deixando-a em evidência. Chester comprimiu então a placa contra uma folha de papel parafinado. Nesta, apareceram os dizeres tingidos pelo pó, que foram depois fixados pela ação do calor.
Impressionado, um professor de letras clássicas de Ohio sugeriu que o nome do processo fosse trocado para xerografia, do grego xerox = seco e grafia = escrita.
Chester, animado com o sucesso, começou a procurar financiadores para o invento, além de fabricantes que pudessem produzi-lo em escala industrial. Não havia, porém, ninguém interessado na xerografia e os desenhos propostos pelo físico não eram satisfatoriamente executados pelas fábricas.
De 1939 a 1944, o inventor percorreu mais de vinte companhias, em busca de reconhecimento. Não teve resposta.
Estaria tudo perdido caso uma pequena firma chamada Companhia Haloid, de Rochester, Nova York, não tivesse, enfim, se interessado pela engenhoca. Ela negociou os direitos comerciais e em abril de 1947 Chester recebeu o pagamento inicial a que tinha direito – 2.500 dólares -, embora ainda fossem necessários três anos para que a primeira xerox chegasse ao mercado. O processo era semelhante àquele experimentado tempos antes e que ainda hoje é utilizado. A imagem do original é projetada através de lentes e espelhos sobre um cilindro metálico carregado de eletricidade estática e coberto por uma camada de selênio.
A parte clara do original reflete luz para o cilindro, fazendo com que sua carga seja dissipada. A parte do cilindro referente à imagem escura do original permanece carregada e atrai o tonalizador ou toner – composto que substituiu o licopódio, o pó preto usado originalmente -, que por sua vez se prende a uma folha de papel que passa sobre o cilindro. A imagem é fixada por aquecimento e pressão.
A Companhia Haloid passou a se chamar Corporação Xerox, hoje a 34a entre as maiores corporações industriais dos Estados Unidos. Em pouco tempo havia copiadoras em todos os escritórios do país – e Chester acabou ficando milionário com os direitos de patente da máquina.
A fotocopiadora é uma das únicas aplicações de uso cotidiano da eletricidade estática.
Outros tipos de copiadoras foram desenvolvidos e é difícil imaginar uma empresa ou escola ou qualquer instituição, enfim, que não disponha de copiadoras xerográficas. As mais avançadas podem reduzir ou ampliar qualquer documento, reproduzir slides coloridos e operar em alta velocidade.
Ao facilitar enormemente a vida, as copiadoras também contribuíram para multiplicar as montanhas de papel que cada vez mais parecem sufocar o homem moderno.
As moderníssimas impressoras a laser, acopladas a computadores, parecem constituir a única ameaça ao longo e absoluto reinado das copiadoras xerox.